Apresentação

Essa formação considera o grande número de informações sobre alimentos e alimentação veiculadas pela midias digitais, inclusas as redes sociais virtuais, os abusos da interpretação e “tradução” das ciências dos alimentos e da alimentação, assim como a veiculação de informações pseudocientíficas, desinformações, “infoxicações” e a interpretação inadequada que o público leigo faz da sua alimentação, bem como dos operadores do setor agroalimentar, prejudicando a relação entre produção e consumo e comprometendo o consumo de alimentos.

A propagação de informações múltiplas, incoerentes, inadequadas, erradas, descontextualizadas, rasas, mentirosas e pseudo-científicas acabam incentivando ou motivando a aquisição de novos hábitos alimentares, o consumo e a ingestão de alimentos, nem sempre adequados ao indivíduo e, algumas vezes onerosos.

O consumidor, ele mesmo leitor ou comunicador, profissional de saúde e/ou paciente, se encontra face às informações oriundas das estratégias de marketing de produtores e distribuidores de alimentos, outras oriundas do mundo acadêmico e científico, outras oriundas de “militantes da alimentação” e mais recentemente dos “ativistas ambientais” sem formação devida para interpretá-las.

Por outro lado, profissionais técnicos do setor agroalimentar sentem necessidade de informar e comunicar mas acabam metendo os pés pelas mãos por não conhecerem adequadamente ferramentas e preceitos e estratégias de comunicação. Muitas vezes se deixam levar pelos modismos de comunicação e pelos famosos algoritmos das redes sociais e acabam, inocentemente, corroborando para uma inadequada e péssima informação para o público leigo e consumidores.

Comunicadores, por sua vez, desconhecem os meandros das ciências, inclusive as ciências dos alimentos e da alimentação, as especialidades do setor agroalimentar, os jogos de poder, ego e competição, entre fontes de informação, e corroboram também para uma série de resultados nefastos da alimentação e consumo de alimentos por parte de leigos e consumidores.

Uma das soluções para este problema é a conscientização dos profissionais envolvidos na divulgação de informações técnico-científicas relacionadas com alimentos e alimentação. Esta conscientização compreende profissionais do setor agroalimentar e comunicadores.

Assim sendo, todos os profissionais envolvidos na divulgação de informações sobre alimentos e alimentação poderão contribuir para a melhoria da qualidade das informações veiculadas e sobretudo, incentivar e/ou despertar espírito crítico da população e/ou de indivíduos quanto a sua própria alimentação, quanto ao consumo e ingestão de alimentos e, quanto aos alimentos e produtos alimentícios existentes no mercado.

Esta conscientização também diz respeito à natureza das necessidades nutricionais de populações, aos riscos à que são submetidas essas populações por causa da veiculação de informações e mensagens inadequadas, bem como os cuidados que requerem as doenças nutricionais, as famosas doenças crônico degenerativas, não transmissíveis (obesidade, doenças cardiovasculares, diabetes, etc.).

É evidente que a melhoria da qualidade das informações veiculadas não é suficiente, pois proporcionar às populações, meios para que elas possam exercer seu espírito crítico sobre a origem e o conteúdo destas informações, também é de extrema importância.



Essa proposta de formação considera:

- a grande quantidade de informações, sobre alimentação, alimentos e/ou nutrição veiculadas nas internet e redes sociais, sob o formato jornalístico, publicidade explícita ou disfarçada, por profissionais especialistas, grupos de pesquisa e marcas do setor agroalimentar; 1 

- os problemas e particularidades da popularização científica;

- as dificuldades de interpretação pelos comunicadores e as dificuldades de comunicação por parte dos especialistas ;

- a necessidade crescente que sentem especialistas e pesquisadores, de comunicar com o público leigo ;

- a ignorância por parte de especialistas e pesquisadores das consequências da informação e comunicação inadequada sobre alimentos e alimentação na sociedade e indivíduos;

- o desconhecimento, por parte de especialistas e pesquisadores, preceitos de comunicação social, sobre ferramentas de comunicação social, particularidades da internet e redes sociais;

- as fontes de informação utilizadas pelos comunicadores que além de se limitarem a um número reduzido de material científico de fácil acesso e compreensão, utilizam sempre as mesmas fontes nem sempre as mais indicadas para um determinado tema. Quando se fala das fontes « humanas », Pierre Bourdieu os apelidou de « fast-thinkers » : sempre disponíveis , com respostas que agradam os produtores e/ou editores ;

- a importância da escolha de fontes de informações adequadas e capacitadas ;

- a necessidade de uma forma de governança e responsabilização na qual devem estar envolvidos os médias, os governos, a indústria e os cidadãos, para que possa existir um fluxo real e adequado de informações veiculadas.

1 Estudando as 2 revistas de puericultura, as mais vendidas, destinadas ao público leigo, no Brasil e na França, J.T. Grazini dos Santos e B. Jurdant observaram que em torno de 25% do material jornalístico veiculado referem-se ao tema “nutrição e/ou alimentação”.